Atenção góticos e satanistas de plantão: eis a prova definitiva de que nenhum dos famosos "trues" ou "extremes" (de Alice Cooper e Black Sabbath aos contemporâneos Impaled Nazarene e Marilyn Manson) foram os responsáveis por abrir as portas do mundo da música para o capeta! O autor de tal façanha foi o Sr. Jalacy Hawkins (1929-2000) que atendia pela alcunha de Screamin' Jay Hawkins.
Não vou escrever sobre o seu falecimento num palco, em plena atividade, na cidade que tanto amou ( I Love Paris de Cole Porter), nem dos 75 filhos que compareceram ao seu funeral e que ele sequer conheceu qualquer um deles.
Vamos fazer uma viagem de volta ao continente americano da década de 50, mais precisamente nos E.U.A.: neste período a segregação racial atingia o seu apogeu tendo como referência máxima o apartheid sulafricano. Inúmeros filhos da diáspora africana se organizavam em grupos políticos, religiosos e culturais de resistência para fazer uma gigantesca frente de resistência ao maior de todos os tentáculos do capitalismo. Da mesma forma em que no Brasil estas ações estavam representadas, entre outras, no Samba, no Candomblé, na Capoeira, nos impactos causados pela Frente Negra, organização política e paramilitar já extinta na época, e no T.E.N. ( Teatro Experimental do Negro ), o Blues foi uma das principais armas musicais utilizadas pelos cabras do andar de cima deste imenso continente.
Um Estados Unidos próspero graças à vitória na Segunda Guerra Mundial, dos anos dourados de sua indústria automobilística dominante em todo o planeta, que nem de longe lembrava a "biela" em que passou com a crise da bolsa de valores na década de 20. Um país cuja sociedade estava essencialmente pautada nos valores cristãos, moralistas, empreendedores, capitalistas e brancos. Neste mesmo lugar, um bluesman resolve ultrapassar a linha existente entre o trinômio vodu-putaria-malandragem guetizado e o mundo do politicamente correto dos Sinatras da vida, tendo como objetivos mostrar uma das maiores grandezas de seu povo, assombrar as boas famílias brancas e cristãs, bem como sequelar os seus "anjinhos" (que viviam grudados na tevê à espera do simpático Gato Félix ou do Superman que garantia a existência da nova ordem em todo o planeta, segundo os seus conceitos de harmonia) a partir daquela geração. Tudo isso de forma sarcástica, assombrosa, talentosa e bem humorada na música pop.
O fato é que o norte da américa jamais esteve preparada para assistir as performances ao vivo de um "negão dus infernu" com direito a caixões, velas, caveiras flamejantes, objetos satânicos, em que o sexo bizarro, o canibalismo, o inferno e todas as potestades que lá habitam, entre outras "pérolas", eram temas constantes dos seus shows.
A sua voz semelhante a urros de "sucurí-esquizofrênica-e-possessa-por-falta-de-comida-na-beira-do-rio" está registrada em canções psicóticas como I Put a Spell on You (gravada com a banda totalmente alcoolizada), I Hear Voices (sobre o momento histórico em que o mestre tem a honra de receber a visita do chifrudo e toda a sua côrte em casa), Alligator Wine (o melhor registro artístico-musical das "viagens" e sequelas causadas pelo consumo de uma garrafa de vinho São Jorge), Feast of the Mau Mau ( referência cômica e direta do seu alter-ego, a famosa tribo queniana, que tem como esporte predileto atacar europeus desavisados que praticam safaris pra'quelas bandas de lá) e Constipation Blues ( uma singela homenagem à popular "dor de cagar"), só para citar algumas!
O mundo de Screamin' Jay Hawkins pode descrito como o blues sônico, trovejante, aloprado, putanheiro, histérico, muito doido elevado à potência enésima jamais visto, lido e ouvido, feito por um cara que acredito que soube viver e sobreviver a todo o contexto descrito nestas linhas.
E como falar de música sem a presença da mesma é sacanagem, deixo disponível o disco que ilustra este post para download (é só clicar na foto acima).
Sugestão: vá na geladeira, pega aquela garrafa de São Roque esquecida no fundo da geladeira, daquele antológico churrasco em sua casa com direito àquela performance do seu pai bêbado em cima da mesa, em exposições de pentelhos grisalhos, saco pelancudo, bunda caída e vômitos mil aos embalos de "vixe mainha" pros seus coleguinhas, pra sua nova(o) namorada(o), e som na caixa!!!
Não vou escrever sobre o seu falecimento num palco, em plena atividade, na cidade que tanto amou ( I Love Paris de Cole Porter), nem dos 75 filhos que compareceram ao seu funeral e que ele sequer conheceu qualquer um deles.
Vamos fazer uma viagem de volta ao continente americano da década de 50, mais precisamente nos E.U.A.: neste período a segregação racial atingia o seu apogeu tendo como referência máxima o apartheid sulafricano. Inúmeros filhos da diáspora africana se organizavam em grupos políticos, religiosos e culturais de resistência para fazer uma gigantesca frente de resistência ao maior de todos os tentáculos do capitalismo. Da mesma forma em que no Brasil estas ações estavam representadas, entre outras, no Samba, no Candomblé, na Capoeira, nos impactos causados pela Frente Negra, organização política e paramilitar já extinta na época, e no T.E.N. ( Teatro Experimental do Negro ), o Blues foi uma das principais armas musicais utilizadas pelos cabras do andar de cima deste imenso continente.
Um Estados Unidos próspero graças à vitória na Segunda Guerra Mundial, dos anos dourados de sua indústria automobilística dominante em todo o planeta, que nem de longe lembrava a "biela" em que passou com a crise da bolsa de valores na década de 20. Um país cuja sociedade estava essencialmente pautada nos valores cristãos, moralistas, empreendedores, capitalistas e brancos. Neste mesmo lugar, um bluesman resolve ultrapassar a linha existente entre o trinômio vodu-putaria-malandragem guetizado e o mundo do politicamente correto dos Sinatras da vida, tendo como objetivos mostrar uma das maiores grandezas de seu povo, assombrar as boas famílias brancas e cristãs, bem como sequelar os seus "anjinhos" (que viviam grudados na tevê à espera do simpático Gato Félix ou do Superman que garantia a existência da nova ordem em todo o planeta, segundo os seus conceitos de harmonia) a partir daquela geração. Tudo isso de forma sarcástica, assombrosa, talentosa e bem humorada na música pop.
O fato é que o norte da américa jamais esteve preparada para assistir as performances ao vivo de um "negão dus infernu" com direito a caixões, velas, caveiras flamejantes, objetos satânicos, em que o sexo bizarro, o canibalismo, o inferno e todas as potestades que lá habitam, entre outras "pérolas", eram temas constantes dos seus shows.
A sua voz semelhante a urros de "sucurí-esquizofrênica-e-possessa-por-falta-de-comida-na-beira-do-rio" está registrada em canções psicóticas como I Put a Spell on You (gravada com a banda totalmente alcoolizada), I Hear Voices (sobre o momento histórico em que o mestre tem a honra de receber a visita do chifrudo e toda a sua côrte em casa), Alligator Wine (o melhor registro artístico-musical das "viagens" e sequelas causadas pelo consumo de uma garrafa de vinho São Jorge), Feast of the Mau Mau ( referência cômica e direta do seu alter-ego, a famosa tribo queniana, que tem como esporte predileto atacar europeus desavisados que praticam safaris pra'quelas bandas de lá) e Constipation Blues ( uma singela homenagem à popular "dor de cagar"), só para citar algumas!
O mundo de Screamin' Jay Hawkins pode descrito como o blues sônico, trovejante, aloprado, putanheiro, histérico, muito doido elevado à potência enésima jamais visto, lido e ouvido, feito por um cara que acredito que soube viver e sobreviver a todo o contexto descrito nestas linhas.
E como falar de música sem a presença da mesma é sacanagem, deixo disponível o disco que ilustra este post para download (é só clicar na foto acima).
Sugestão: vá na geladeira, pega aquela garrafa de São Roque esquecida no fundo da geladeira, daquele antológico churrasco em sua casa com direito àquela performance do seu pai bêbado em cima da mesa, em exposições de pentelhos grisalhos, saco pelancudo, bunda caída e vômitos mil aos embalos de "vixe mainha" pros seus coleguinhas, pra sua nova(o) namorada(o), e som na caixa!!!
2 comentários:
Excelente, excelente!!! Nota 1000000000000000!!!!!!!!!!! Parabéns Black Bell!!
Excelente black bell!!!
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