Continuação de nossa entrevista para o lançamento da coletânea "Under the Southern Sun", do post anterior:
6- Sabe-se que o verdadeiro espírito da Modus repousa no industrial pré oitentista e oitentista, com nítidas influencias do post punk e da coldwave, mantendo a banda, as características iniciais do estilo como o experimentalismo e o caos sonoro...porem, hoje infelizmente o conceito de industrial moderno refere-se principalmente as bandas que seguiram a escola do ministry e do white zombie como marilyn manson e rammstein, alem de bandas que exploram um lado mais dançante....o conceito de rock industrial foi deturpado? Ou trata-se somente uma ramificação moderna?
Nossa, foi a melhor definição do som da Modus dada até hoje!! (rs). Acreditamos que existe um pouco de cada coisa, houve uma deturpação que tornou o estilo mais acessível e palatável, em parte devido a associação com o Metal (que sempre desprezou a música sem técnica como o Industrial, o Eletrônico e afins). Algumas bandas realmente procuram atualizar o conceito de forma honesta e criativa; sem diluição; a exemplo do Ministry, Young Gods, Treponem Pal. Já outras estão apenas pegando carona na onda e não demonstram aprofundamento; como o próprio White Zombie (que só serviu na prática para lançar Rob Zombie, nem como músico, e sim como cineasta). A ramificação realmente existe (Industrial Metal), só que temos muitos artistas que vão sumir com o tempo por não possuirem embasamento e outros vão se firmar pela coerência, como o Young Gods, que já tem mais de 20 anos de atividade!
7-Uma coisa que chama atenção na Modus é o balanceamento feito nas composições, existem doses exatas de caos e melancolia. As letras e as melodias transparecem um misto de desordem e desespero gritante, mas ao mesmo tempo de tristeza e sensibilidade...me parece que mesmo de forma despretensiosa, a modus conseguiu traduzir em musica os sentimentos que atraem os apreciadores da subcultura gótica e os adeptos do nos industriais, porem de uma forma nada fantasiosa, por assim dizer, já que todos os aspectos ditos melancólicos que se apresentam nas musicas da modus possuem um caracter moderno, urbano e real como por exemplo a descrição poética de uma morte por acidente de automóvel. Em tempos de saturação da tematica lírica gótica isso seria um trunfo?
Com certeza, este fator é algo realmente intencional! Embora trabalhemos com o Gótico, não nos prendemos a devaneios, procuramos estar atentos a realidade que nos cerca. Se por um lado, a Modus aborda sentimentos bastante íntimos, como: loucura, desordem mental e outros; por outro lado, pretendemos fazer uma analíse crítica do mundo moderno que a cada dia se torna mais amargo e sem esperança. Muitas das letras atuais, inclusive, já carregam este sentimento de descrédito perante a sociedade. Musicalmente também trabalhamos desta forma: procuramos criar climas viajantes e entorpecentes através de sequencias de ruído e notas lineares, fazendo da música uma ponte entre estes dois extremos. Podemos afirmar que, com relação a outras bandas do estilo, este é nosso maior trunfo!
8-“A modus não é dançante!” Como vocês encaram este tipo de frase?
Bem, a pessoa que teceu este comentário o fez como uma crítica, mas nós encaramos como elogio! (rs). Foi a respeito de nossa apresentação no Nordeste Gothic Reunion, e no dia seguinte a pessoa falou que deveríamos ter tocado no início ou no fim, pois "não somos dançantes"! Foi algo interessante porque, se por um lado "quebramos o clima" das bandas como Plastic Noir e Almas Mortas; por outro ficou reforçado o aspecto (abordado justamente na pergunta anterior) de que realmente somos idiossincráticos e diferenciados de outras bandas Góticas. Só espero que estas bandas não tomem isso como ofensa, afinal apenas somos mais barulhentos, só isso! (rs)
9- Os shows da Modus são conhecidos pela singularidade de cada um deles, jah vi pessoas comentarem que nunca viram um show da modus que se parecessem com outro já feito pela banda....como se dá este processo de entrega da Modus no palco?
É algo bem real, pois quando tocamos colocamos para fora todo o ódio. Procuramos também trabalhar bastante o lado visual, utilizando uniformes e outros, tudo dentro de uma coerência. A Modus escreve sobre o que vive, portanto fica fácil passar o que sentimos pela música. Conseguimos transmitir raiva, melancolia, reflexão e outros simplesmente porque é por aquilo que estamos passando na nossa vida. O resultado é que as nossas músicas nunca abordam uma única forma de expressão ou sentimento, é difícil ver alguém que só curte Gótico por exemplo, falar que gosta de todas as composições, as pessoas se identificam mais com uma ou outra. Tudo isso acaba modelando a nossa presença de palco. Outra coisa que contribui é que nunca encontramos a estrutra que necessitamos nos shows (poucos microfones, som inadequado, etc), dest foma acabamos criando nossa própris estrutura para complementar o show, como: máscaras, imagens, objetos e outros.
10-Podemos dizer que a musica da Modus é instintiva? Como é o processo de composição?
Sim, é bastante instintiva! Não procuramos criar arranjos elaborados, a composição segue de forma livre, bastante semelhante ao método dos Dadaístas. Normalmente ficamos tocando qualquer coisa de forma espontânea, sem nada combinado. Daí naturalmente ocorre um ajuste, onde alguém cria algo em cima e então passamos a trabalhar naquilo, que pode ser uma sequencia musical, uma nota repetida ou até mesmo um som ou ruído! O último passo e encaixar a letra, que demora um pouco. Mas tem também o método tradicional: alguém tem uma sequencia de notas e aí trabalhamos em cima até ficar ao gosto de todos. É um processo bem participativo e dinâmico!
11-A musica “Visões” pode se encarada como uma alegoria para a culpa?
Sabe, nunca a vimos desta forma. Mas sabemos que os admiradores tem sempre uma forma própria de interpretar as letras e a música. Podemos sim, encarar ela como uma alegoria a culpa, pois acreditamos firmemente que a arte em geral pode ser entendida dos mais diferentes pontos de vista.
12 -Uma síndrome do underground e talvez da música mainstream é a chamada “descoberta tardia”, muitas bandas viram lendas, após seu termino, como por exemplo as brasilienses Lupercais e Pompas Fúnebres, a paulista Stale Bread, a mineira Lábia Minora e a baiana Chants of Maledicta, hoje objetos de culto e de amor tardio, a Modus teme ser uma banda “cult post mortem”?
Acreditamos que já passamos deste estágio. Primeiro devido ao longo tempo de estrada que temos, enquanto a maioria das bandas citadas durou menos que nós. Outro fator a se considerar é que nosso som, como falamos anteriormente, é muito estranho até mesmo para um padrão Underground. Não iremos passar a ter maior aceitação só porque terminamos, isso até pode ocorrer, mas não de forma como aconteceu com as bandas acima. Existe a questão que uma banda que acabou atiça mais a curiosidade do que uma em atividade, mas só o tempo poderia dar uma resposta real a essa questão.
13-A banda pretende voltar a gravar alguma coisa? Algumas músicas novas já são bem conhecidas por causas dos shows, existe intenção de grava-las em estúdio?
Sim, já está mais do que na hora de gravarmos, o CD "Radio-Graphia" é de 2000, sete anos é muito tempo!! (rs). Antes do final de Novembro estamos lançando o CD novo. Vamos participar do tributo a banda carioca Black Future com a música "Eu Sou o Rio", que já foi desenvolvida, por isso temos de estabelecer este prazo, já que a coletânea será lançada no final de Novembro. As músicas estão mais dançantes (por incrível que pareça!) e as letras estão mais diretas. Vamos fazer uma embalagem especial, com o intuito de alavancar as vendas do CD físico, ao invés do mp3. Aguardem!!
14- Valeu pela entrevista David. Utilize este espaço para considerações finais.
Agradecemos ao espaço e a iniciativa, esperamos que daqui por diante mais oportunidades se abram para nós e as bandas irmãs! Muito obrigado a todos que nos acompanham por tantos anos e aos novos fãs. Para novidades, acessem www.modusweb.blogspot.com ou www.myspace.com/modusweb .
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